segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Pelo calor de Cuiabá

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Chegar em Cuiabá até que foi fácil, aeroporto perto de casa, horário tranqüilo. A volta é que foi complexa - dos 39º cuiabanos, em São Paulo 12º me aguardavam. Mas neste post não é da temperatura que me refiro, quero contar sobre o outro calor que encontrei por lá.

Mesmo sabendo que Cuiabá é quente, houve um impacto inicial. Tive a impressão de ter aberto um forno ao pisar na escada para descer do avião, por causa do bafo quente que veio na minha cara. Lá fora, a figura alegre e deliciosa da Michèle já acenando com as boas vindas. Nessa situação, calça comprida e tênis não são os trajes ideais, então na hora do almoço uma corrida rápida ao banheiro do shopping para a troca de roupa. De cara já encontrando e conhecendo pessoas, suas feições estão nítidas aqui na minha memória, mas os nomes infelizmente se foram.

No auditório da UFMT começam as surpresas. O painel lindíssimo ao fundo e na mesa das conferências a instalação da Imara Quadros e colaboradores, talvez voltada ao dadaísmo, segundo ela mesma, num repente me fizeram pensar na decoração utilizada nos eventos conservadores de certas universidades paulistas.  Será que topariam algo do gênero? De um lado o caos, do outro a ordem. A ordem vem do caos ou o caos é uma ordem que necessita certa leitura?
Foto: Michèle Sato
Aproveitando o tempo livre antes do início do mapeamento – evento paralelo ao VI REMTEA – um passeio pela exposição de arte popular do MT. Lindas redes, viola de cocho e artesanato em barro pintado com barro. Não conhecia nada disso e quanto mais ando por aí, mais me impressiono com a diversidade cultural deste país.

A abertura foi marcada por uma mística puxada pelos pantaneiros e que terminou de uma forma muito bonita, com cada um da platéia segurando uma fita que representava sua identidade. Neste momento percebi a diversidade dos grupos e comunidades ali presentes.
Foto: VI REMTEA
Como esperado, não conhecia as pessoas que participaram das mesas provocativas e nem o tema abordado, sobre comunidades tradicionais, identidades e conflitos, e como observadora, senti o quanto esses povos e comunidades têm suas identidades e culturas ameaçadas pelos grandes interesses, como latifundiários e políticos, porém reconhecem sua importância e lutam para manterem seus espaços, culturas e tradições. Mesmo por muitas vezes em pequenos grupos, a luta impressiona pela força, união e articulação. Uma quantidade enorme de comunidades tradicionais, movimentos sociais e etnias indígenas de perder a conta. Cada qual com suas características próprias e que são o tempo todo violentadas nos seus direitos.

No primeiro dia à noite aconteceu o encontro propriamente dito, com a inusitada presença da “Nona”, que foi a mestre de cerimônias. Mais uma vez não consigo enxergar algo do gênero animando os eventos formais de universidades paulistas. A Nona é uma senhora que usa meias até os joelhos, lenço para prender a cabeleira desgrenhada e vestido de chita, sempre mau-humorada e com sotaque italiano típico do bairro do Bixiga, em São Paulo, tendo que segurar a língua para não falar palavrões em público. Ela é uma das personagens do repertório do Herman, pessoa querida que conheci e adorei.

Entre os palestrantes que compareceram, além da querida Michèle, falas que me impressionaram muito, como Prof. Passos (UFMT), Carlos Walter Porto-Gonçalves (UFF), Rogério Haesbert (UFRJ) e outros menos acadêmicos, mas com o mesmo brilho.

Alguns momentos: Claudison (DEA-MMA) espantado porque ninguém disse “oohhh” quando comentou que, segundo levantamento do MinC, não há cinemas em todas as cidades brasileiras; palestra do Carlos Walter; alfinetada do Heitor em quem usa powerpoint; técnica do MMA chamando as comunidades tradicionais de “acomodadas”; um quilombola e alguns índios usando óculos escuros dentro do auditório (provavelmente para disfarçar o cansaço); o representante da CONAQ faceiramente utilizando um laptop que chamou de "brinquedinho"; a fala da Mariléia Tauia, moça linda, que cobrou postura de quem participa de eventos; Prof. Wanderlei Pignati (ISC/UFMT), que me deixou pasma com os levantamentos sobre a poluição do ar e da água pelas queimadas e a interferência disso na saúde das crianças do município estudado - lembrei muito da região de Ribeirão Preto, onde sofremos com queimadas autorizadas e não há estudos a respeito; a presença dos índios xavantes, altos, fortões e com aquele cabelo que lembra o mullet dos anos 80; Michèle pedindo desculpas a Nélson Rodrigues pelo manifesto dos retireiros do Araguaia ter sido aprovado por unanimidade; conversar com estes retireiros, aprender sobre sua cultura e compreendê-los foi enriquecedor; a movimentação lá fora, com os artesanatos, comidinhas e música; conversas de corredor (as melhores); e muitos outros, como ser confundida com as pessoas da organização, ser chamada de professora, no banheiro feminino indiretamente participar da eleição do homem mais bonito do evento; enfim, poucos dias, porém muito intensos.

Tenho que falar também das intervenções dos participantes, que não estavam na programação e que foram acolhidas pela organização enriquecendo o encontro com cantigas, poesias, orações, música e dança.
Rap e os vídeos abaixo, siriri.


Respeitando os diferentes contextos e territorialidades, senti que nas questões de união, articulação e autogestão, Michèle e equipe estão anos-luz à nossa frente. Creio que em virtude de, além do tempo de ativismo e necessidade de urgência na tomada de decisões, seja também pelo amadurecimento do próprio grupo destacando-se dos demais e dando outro formato aos movimentos socioambientais - movimentos de vanguarda - e que trazem reflexões sempre levando em consideração que vivemos em situações distintas.

Muito mais fotos: EdnaMichèle e REMTEA.

Como tudo neste blog, esta minha investida pelas letras é para registrar os bons momentos desses dias tão gostosos. A outra parte fica por conta do passeio à Chapada dos Guimarães, sonho antigo, proporcionado pela Michèle e que, apesar de curtinho - dois dias -, deu para visualizar o quanto é bonito e sentir como é mágico. Uma observação: o vídeozinho aí embaixo foi feito no centro geodésico, em 10/10/2010. Talvez signifique algo que saberemos com o tempo.
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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Banksy faz nova abertura para "Os Simpsons"

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O grafiteiro britânico Banksy idealizou uma nova abertura para a série americana de animação Os Simpsons.
O artista fez uma sequência final polêmica, mostrando dezenas de pessoas de aparência oriental, algumas parecendo crianças, em um ambiente insalubre trabalhando em animações e produtos ligados ao seriado.
A idéia teria sido inspirada em supostas notícias de que os produtores da série terceirizariam a maior parte do trabalho para uma empresa na Coréia do Sul.



Fonte: BBC Brasil
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Edna Costa. Tecnologia do Blogger.