segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Pelo calor de Cuiabá

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Chegar em Cuiabá até que foi fácil, aeroporto perto de casa, horário tranqüilo. A volta é que foi complexa - dos 39º cuiabanos, em São Paulo 12º me aguardavam. Mas neste post não é da temperatura que me refiro, quero contar sobre o outro calor que encontrei por lá.

Mesmo sabendo que Cuiabá é quente, houve um impacto inicial. Tive a impressão de ter aberto um forno ao pisar na escada para descer do avião, por causa do bafo quente que veio na minha cara. Lá fora, a figura alegre e deliciosa da Michèle já acenando com as boas vindas. Nessa situação, calça comprida e tênis não são os trajes ideais, então na hora do almoço uma corrida rápida ao banheiro do shopping para a troca de roupa. De cara já encontrando e conhecendo pessoas, suas feições estão nítidas aqui na minha memória, mas os nomes infelizmente se foram.

No auditório da UFMT começam as surpresas. O painel lindíssimo ao fundo e na mesa das conferências a instalação da Imara Quadros e colaboradores, talvez voltada ao dadaísmo, segundo ela mesma, num repente me fizeram pensar na decoração utilizada nos eventos conservadores de certas universidades paulistas.  Será que topariam algo do gênero? De um lado o caos, do outro a ordem. A ordem vem do caos ou o caos é uma ordem que necessita certa leitura?
Foto: Michèle Sato
Aproveitando o tempo livre antes do início do mapeamento – evento paralelo ao VI REMTEA – um passeio pela exposição de arte popular do MT. Lindas redes, viola de cocho e artesanato em barro pintado com barro. Não conhecia nada disso e quanto mais ando por aí, mais me impressiono com a diversidade cultural deste país.

A abertura foi marcada por uma mística puxada pelos pantaneiros e que terminou de uma forma muito bonita, com cada um da platéia segurando uma fita que representava sua identidade. Neste momento percebi a diversidade dos grupos e comunidades ali presentes.
Foto: VI REMTEA
Como esperado, não conhecia as pessoas que participaram das mesas provocativas e nem o tema abordado, sobre comunidades tradicionais, identidades e conflitos, e como observadora, senti o quanto esses povos e comunidades têm suas identidades e culturas ameaçadas pelos grandes interesses, como latifundiários e políticos, porém reconhecem sua importância e lutam para manterem seus espaços, culturas e tradições. Mesmo por muitas vezes em pequenos grupos, a luta impressiona pela força, união e articulação. Uma quantidade enorme de comunidades tradicionais, movimentos sociais e etnias indígenas de perder a conta. Cada qual com suas características próprias e que são o tempo todo violentadas nos seus direitos.

No primeiro dia à noite aconteceu o encontro propriamente dito, com a inusitada presença da “Nona”, que foi a mestre de cerimônias. Mais uma vez não consigo enxergar algo do gênero animando os eventos formais de universidades paulistas. A Nona é uma senhora que usa meias até os joelhos, lenço para prender a cabeleira desgrenhada e vestido de chita, sempre mau-humorada e com sotaque italiano típico do bairro do Bixiga, em São Paulo, tendo que segurar a língua para não falar palavrões em público. Ela é uma das personagens do repertório do Herman, pessoa querida que conheci e adorei.

Entre os palestrantes que compareceram, além da querida Michèle, falas que me impressionaram muito, como Prof. Passos (UFMT), Carlos Walter Porto-Gonçalves (UFF), Rogério Haesbert (UFRJ) e outros menos acadêmicos, mas com o mesmo brilho.

Alguns momentos: Claudison (DEA-MMA) espantado porque ninguém disse “oohhh” quando comentou que, segundo levantamento do MinC, não há cinemas em todas as cidades brasileiras; palestra do Carlos Walter; alfinetada do Heitor em quem usa powerpoint; técnica do MMA chamando as comunidades tradicionais de “acomodadas”; um quilombola e alguns índios usando óculos escuros dentro do auditório (provavelmente para disfarçar o cansaço); o representante da CONAQ faceiramente utilizando um laptop que chamou de "brinquedinho"; a fala da Mariléia Tauia, moça linda, que cobrou postura de quem participa de eventos; Prof. Wanderlei Pignati (ISC/UFMT), que me deixou pasma com os levantamentos sobre a poluição do ar e da água pelas queimadas e a interferência disso na saúde das crianças do município estudado - lembrei muito da região de Ribeirão Preto, onde sofremos com queimadas autorizadas e não há estudos a respeito; a presença dos índios xavantes, altos, fortões e com aquele cabelo que lembra o mullet dos anos 80; Michèle pedindo desculpas a Nélson Rodrigues pelo manifesto dos retireiros do Araguaia ter sido aprovado por unanimidade; conversar com estes retireiros, aprender sobre sua cultura e compreendê-los foi enriquecedor; a movimentação lá fora, com os artesanatos, comidinhas e música; conversas de corredor (as melhores); e muitos outros, como ser confundida com as pessoas da organização, ser chamada de professora, no banheiro feminino indiretamente participar da eleição do homem mais bonito do evento; enfim, poucos dias, porém muito intensos.

Tenho que falar também das intervenções dos participantes, que não estavam na programação e que foram acolhidas pela organização enriquecendo o encontro com cantigas, poesias, orações, música e dança.
Rap e os vídeos abaixo, siriri.


Respeitando os diferentes contextos e territorialidades, senti que nas questões de união, articulação e autogestão, Michèle e equipe estão anos-luz à nossa frente. Creio que em virtude de, além do tempo de ativismo e necessidade de urgência na tomada de decisões, seja também pelo amadurecimento do próprio grupo destacando-se dos demais e dando outro formato aos movimentos socioambientais - movimentos de vanguarda - e que trazem reflexões sempre levando em consideração que vivemos em situações distintas.

Muito mais fotos: EdnaMichèle e REMTEA.

Como tudo neste blog, esta minha investida pelas letras é para registrar os bons momentos desses dias tão gostosos. A outra parte fica por conta do passeio à Chapada dos Guimarães, sonho antigo, proporcionado pela Michèle e que, apesar de curtinho - dois dias -, deu para visualizar o quanto é bonito e sentir como é mágico. Uma observação: o vídeozinho aí embaixo foi feito no centro geodésico, em 10/10/2010. Talvez signifique algo que saberemos com o tempo.
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quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Banksy faz nova abertura para "Os Simpsons"

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O grafiteiro britânico Banksy idealizou uma nova abertura para a série americana de animação Os Simpsons.
O artista fez uma sequência final polêmica, mostrando dezenas de pessoas de aparência oriental, algumas parecendo crianças, em um ambiente insalubre trabalhando em animações e produtos ligados ao seriado.
A idéia teria sido inspirada em supostas notícias de que os produtores da série terceirizariam a maior parte do trabalho para uma empresa na Coréia do Sul.



Fonte: BBC Brasil
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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O Garoto que Domou o Vento

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Hoje a leitura de um post do ano passado no blog Contraditorium trouxe reflexões sobre perseverança, atitude e esperança. Segue abaixo:

Esta é uma daquelas histórias que rendem filmes de Sessão da Tarde, mas ao contrário do excelente Céu de Outubro, a situação de William Kamkwamba era muito mais dramática.

Ele nasceu e cresceu em Malawi, um daqueles países irrelevantes até mesmo para os padrões africanos. Tem 14 milhões de habitantes, baixa expectativa de vida, alta mortalidade infantil e AIDS. A renda per capita é de US$312,00. Só para comparar a do Brasil é de US$8.295,00.

Sua vila/aldeia não tinha saneamento básico, água corrente e muito menos eletricidade. É comum na África gente percorrer quilômetros a pé para recarregar celulares e rádios, e era o que William fazia.

Em 2002 aos 14 anos seus pais foram obrigados a tirá-lo da escola. Assolados pela fome a família não tinha como mantê-lo estudante. Mas Kamkwamba era um grande guerreiro, não no sentido militar -guerra não faz ninguém grande- mas no intelectual. Mesmo fora da escola ele continuou frequentando uma pequena biblioteca, de um só cômodo, bancada por doações do Governo dos EUA.

Nela ele viu um livro sobre moinhos de vento. Mesmo sem entender muito bem inglês, percebeu que aquilo era algo que ele conseguiria fazer. Percebeu que eletricidade era a chave para melhorar a condição de vida de sua família. Só 2% da população tem acesso ao recurso.

Durante 3 meses ele juntou peças de ferro-velho, bicicletas encontradas no lixo, estudou sobre magnetismo, condutores e dínamos. De posso do conhecimento repassado por Mestre a muito mortos, ele fez algo que deixaria Maxwell orgulhoso: Aplicou a Teoria e construiu um moinho de vento:

Antes do projeto ficar pronto, a turma que acredita que nada pode ser feito da primeira vez caiu de pau em cima do garoto, afinal um moleque de 14 anos, em um país insignificante da África ousar desafiar os Deuses da Mediocridade e construir algo, ao invés de sentar, reclamar e ficar recebendo calado a esmola em forma de doações da ONU?
Isso é uma afronta a todo mundo que escolheu o caminho mais fácil. Por isso Kamkwamba ouvia coisas como:
“Você é doido, acho que está fumando maconha demais”

Indignado o garoto respondia: “Vejam esta foto no livro! Esse moinho não caiu do céu, alguém construiu!”
Mesmo assim o projeto deu certo. O moinho gerava energia para televisão, eletrodomésticos, rádio, iluminação, recarregar celulares e o mais importante, bombear água.
Logo o moinho de Kamkwamba se tornou atração turística/funcional. Pessoas vinham de longe para carregar seus celulares, outros começaram a visitar a biblioteca, os sábios locais perceberam que a história precisava ser divulgada. Logo um jornalista apareceu e Kamkwamba teve seu feito publicado.
Graças aos blogs a notícia se espalhou mais ainda. Logo William Kamkwamba estava ensinando a construir moinhos, viajando pela África contando sua história, que foi parar nos ouvidos de Bryan Mealer, jornalista especializado na África.
Bryan passou mais de um ano juntando material, fazendo entrevistas e visitando os locais, até escrever “O Garoto que Domou o Vento”, contando toda a história.
O livro já está na lista de Best Sellers do New York Times. William Kamkwamba ganhou uma bolsa de estudos e está terminando seu Segundo Grau em Johanesburgo, na África do Sul, no Kings College.
Ele acaba de voltar de uma turnê nos Estados Unidos, apareceu em diversos programas, como o Daily Show. Quer fazer faculdade por lá, e eu aposto meu botão de block no Twitter que não faltarão Universidades oferecendo bolsas integrais.
Afinal de contas mesmo sendo um garoto que não foi alfabetizado em inglês, sem um centavo no bolso e praticamente sem comida em casa, William Kamkwamba tem INTELIGÊNCIA, o que (nem sempre) é algo reconhecido por seus pares.
Isso propiciou um currículo invejável. No mínimo tem que se respeitar alguém que faz uma apresentação no TED em Oxford, Inglaterra.
Ele conseguiu isso sem computadores, sem Internet, sem superstição, sem ódio nem raiva. Poderia ser mais um pregando caos e destruição, com seus AK47s virtuais ou não. Mas esses e seus gritos raivosos estão sempre destinados ao esquecimento.
Lembrado será William Kamkwamba, por mostrar que relevantes são os que CONSTROEM moinhos de vento, não os que os combatem.
E sim, ele tem conta no Twitter.
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sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Manifesto dos povos do Xingu contra a barragem de Belo Monte

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Rio Xingu - Foto: Eladio Jr.




Manifesto de Apoio ao 2º Encontro dos Povos da Volta Grande do Xingu




SOMOS O RIO! Águas que habitam 70% de nosso corpo, em forma de sangue, de suor, de lágrimas. Águas que fazem a ponte entre a mente, o coração e as mãos, que nos levam a pensar, a sentir e agir. A água que está fora, também está dentro de cada um, de cada uma de nós, e é por isso que nós, ativistas do Comitê Metropolitano do Movimento Xingu Vivo para Sempre, do Fórum da Amazônia Oriental, e do Fórum Social Pan-Amazônico, trazemos, através deste manifesto, nossa saudação e solidariedade a todas e a todos que estão reunidos neste momento nos dias 05 a 08 de novembro de 09, na Comunidade de Ressaca, Município de Altamira, no 2º Encontro dos Povos da Volta Grande do Xingu.
Saudamos também os guerreiros e guerreiras indígenas, lideranças que estiveram reunidas em assembléia na Aldeia Piaraçu (TI Capoto Jarinã), entre os dias 28 de outubro e 04 de novembro, dizendo claramente que não aceitam a opressão e a barragem de suas águas, dizendo em alto e bom som que não aceitam a Hidrelétrica de Belo Monte. Apoiamos incondicionalmente o trabalho realizado pelo painel de especialistas, onde dezenas de pesquisadores e pesquisadoras, de renome internacional, apontaram a inviabilidade econômica, social, cultural, política e ambiental de “Belo Monstro”.
A lógica do mercado, e o que é pior, a dos governos de Ana Júlia Carepa e Luis Inácio Lula da Silva, seus secretários e ministros, além de vários parlamentares, também avançam e invadem violentamente os espaços dos sentidos – o do viver, isto em nome de um desenvolvimento absolutamente insustentável, pois ignora até a própria inteligência, capacidade e criatividade humanas de transformarem seus hábitos e atitudes, para que objetivamente o país possa continuar crescendo, sem compactuar com o modelo destrutivo de sociedade que está posto na atualidade, baseado no esquizofrênico estímulo ao consumo.
Filhos e filhas da terra, guardiãs e guardiões primeiros – povos indígenas, negros e negras, ribeirinhos e ribeirinhas, caboclos e caboclas, e seus descendentes urbanos e/ou urbanizados, amazônidas, brasileiros e brasileiras, repetimos que SOMOS O RIO! A mesma força da correnteza que leva o rio ao mar, o mesmo arrebatamento e a dignidade da pororoca capaz de gerar ondas gigantescas, a mesma fertilidade de criar da piracema está em nós, portanto, o poder é das águas e são elas, por bem ou por mal, que sempre dizem ao homem o que ele deve fazer. E nos dizem pela voz do Xingu que está tudo errado na Hidrelétrica de Belo Monte.


Seguimos a favor da correnteza, da natureza, literalmente a favor de nós mesmos e de nós mesmas. Às margens do rio ou em terra firme; nas aldeias ou na cidade; na Amazônia, no Brasil ou qualquer canto do mundo, não há escapatória, ninguém e nada será poupado das conseqüências de mais esta insanidade.


Queremos o curso natural do Xingu preservado, não só porque a “energia” que querem tirar de suas águas é para gerar um desenvolvimento insustentável a uma minoria, mas porque precisamos dessa mesma energia para gerar em nós – guerreiros e guerreiras, a força necessária para impedir que este e outros projetos insanos comprometam a vida da nossa, e das próximas gerações.


Por isso gritamos, mais uma vez.
NÃO A BELO “MONSTRO”
VIVA A RESISTÊNCIA DOS POVOS DA FLORESTA
VIVA O RIO XINGU, VIVO PARA SEMPRE



Belém, 04 de Novembro de 2009
Comitê Metropolitano do Movimento Xingu Vivo para Sempre: FUNDO DEMA, FASE, IAMAS, IAGUA, APACC, CPT, SDDH, MST, SINTSEP, DCE/UFPA, MLC, GMB/FMAP, UNIPOP, ABONG, CIMI, MANA-MANI, COMITÊ DOROTHY, FUNDAÇÃO TOCAIA, CIA. PAPO SHOW, PSOL, MHF/NRP, COLETIVO JOVEM/REJUMA, MMCC-PA, RECID.
Fórum da Amazônia Oriental (FAOR)
Fórum Social Pan-Amazônico (FSPA)


Fonte: Rejuma


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A flor do Pau Brasil

Florada do Pau Brasil (Caesalpinia echinata) - Foto: Sabrina Mieko


parabéns!!!!
pode ser um passo pno, mas é um passo...
todo caminho começa assim...

às vezes a gente acelera
podemos até parar...
pegamos atalho errado
perdemo-nos

mas haverá sempre um horizonte
um sol poente e uma estrela
e uma amiga para te ajudar no q for possível

sempre
*..*.
.*
*

(por Michèle Sato em 31.08.2009)

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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Mimi e o arco-íris


mimi:
querida EDNA

não tenho mais visitado este iogurte com frequência, mas hj vi que é época do seu niver...
então faça um pedido e jogue neste arcoiris só seu!

o meu é este: FELICIDADES, hoje e sempre!
*

Mimi e Magritte


mimi:
edna lindona
estarei em rib no dia 17julho - me liga pra gente se ver?

uma beijoca desta intelectual
*


Mimi e Chico


mimi:
saudades de ti, rockeira... como vai este tal de roquienrou?

vai um pouco de mim no muito do chico!
beijo
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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Reflexões a propósito do desafio de organizar um evento de modo distribuído

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Refetindo sobre o desafio de organizar a CIRS - Conferência Internacional sobre Redes Sociais (um evento que ocorrerá na constelação de atividades da CI-CI 2010 - Conferência Internacional de Cidades Inovadoras: CIETEP Curitiba 10-13 de março de 2010), resolvi escrever este artigo.

O desafio, para mim, não é propriamente organizar uma conferência, coisa que venho fazendo há mais ou menos uns trinta anos. Ainda mais porquanto se trata de um evento relativamente pequeno (previsto para um público selecionado de aproximadamente mil pessoas). O desafio é fazer isso - pelo menos a partir de certas condições iniciais dadas - de modo distribuído, ou seja, com pouquíssima centralização.

É claro que partimos de condições iniciais muito favoráveis: palestrantes internacionais, infra-estrutura e logística foram aproveitados da CI-CI 2010. A retribuição da CIRS será mais inscritos na CI-CI 2010 (todos os que se conectaram à Escola-de-Redes depois de 12/11/09 deverão fazer sua inscrição na CI-CI 2010 para participar da CIRS), além, é claro, de atrair gente que está envolvida em uma reflexão de vanguarda sobre redes sociais. É um jogo ganha-ganha.

Por outro lado, enquanto a CI-CI 2010 está sendo organizada de modo predominantemente centralizado, com um comitê organizador - do qual faço parte, como articulador do Comitê Científico - instalado há quase um ano e um engajamento institucional forte na sua promoção, financiamento, apoio infra-estrutural e logístico e divulgação, a CIRS - partindo das condições iniciais previamente reunidas que mencionei acima - não tem nada disso.

A CIRS não tem um cartaz, um folheto, um site oficial, nem mesmo uma marca (logo). E não tem verba para fazer qualquer coisa, sequer um crachá e uma pasta para entregar ao participante.

A CIRS não foi promovida por nenhuma instituição ou entidade. A idéia surgiu de conversas entre pessoas conectadas à Escola-de-Redes (agora com 3.159 conectados). E por isso a CIRS não está sendo promovida pela Escola-de-Redes (já que a E=R não tem nenhum mecanismo diretivo que possa tomar decisões em nome coletivo) e sim por pessoas conectadas à Escola-de-Redes. Ou seja, os seus promotores e realizadores são, afinal, as pessoas que decidiram propô-la e que decidiram ajudar a promovê-la e realizá-la. Hoje já temos um grupo na E=R com mais de 80 pessoas dispostas a fazer isso. E já temos centenas de outras pessoas fazendo isso na prática, por sua própria iniciativa (ainda que a maioria destas não esteja formalmente nesse grupo, nem mesmo pertença à Escola-de-Redes). E alcançamos, neste momento em que escrevo, 316 pré-inscritos, faltando ainda dois meses para o evento.

A idéia e sobretudo a prática de realizar a CIRS em rede, de modo distribuído, foi, pelo menos para mim, inédita. A idéia é simples, mas desconcertante para quem está acostumado a promover eventos. Qualquer pessoa - respeitadas as condições iniciais - pode se apropriar da CIRS e promovê-la como se fosse sua: pode inventar uma logo, publicar um folheto ou um cartaz, fazer um banner e pendurá-lo onde bem entender, captar patrocínio para divulgação ou prestação de outros serviços etc. Qualquer empresa ou organização pode associar sua marca à CIRS, divulgando-a nas peças de comunicação que veicular. E nada disso precisa ser combinado como ninguém, nem mesmo relatado para algum centro logístico ou coordenador.

Ou seja, nada da tal imprescindível "identidade visual", nada de estratégia (pensada e aplicada top down), nada de coordenação operacional prévia. Nada.

E também nada de facilitação centralizada de meios de transporte e hospedagem. Cada qual que se vire. Sozinho? Ah!... Parece que não: as pessoas vão se organizando bottom up - aqui na E=R e alhures - para participar da CIRS: vão organizar caravanas, vão encontrar passagens aéreas mais baratas, vão arranjar alternativas de hospedagem...

Além do processo distribuído de divulgação e organização da participação no evento, a parte mais significativa da conferência será... uma desconferência - o Simpósio da Escola-de-Redes, organizado nos moldes de um Open Space, sem pauta prévia, sem apresentação de trabalhos selecionados e sem palestrantes convidados ou contratados. A pauta emergirá quando as pessoas chegarem no local (este sim, já reservado).

É claro que tudo isso está sendo muito facilitado pelo fato da CIRS ocorrer na constelação da CI-CI 2010, que já se preocupou com algumas dessas coisas que dizem respeito à logística e à infra-estrutura. Mas não com todas. E haverá uma parcela ponderável de pessoas que participará da CIRS mas não estará inscrita na CI-CI 2010. Pessoas que vão retribuir com a sua importantíssima presença e não com a taxa de inscrição. E pessoas que vão se auto-organizar.

Refletindo sobre tudo isso cheguei à conclusão de que esta experiência de organizar a CIRS de modo distribuído é um verdadeiro programa de aprendizagem em netweaving. É a melhor coisa que poderia acontecer com esta escola-não-escola chamada Escola-de-Redes.

Mas também percebi o tamanho dos obstáculos. Organizar as coisas de modo distribuído é quase uma ofensa aos que se organizam de modo centralizado. Organizar as coisas de modo distribuído quebra paradigmas. A mudança é mais profunda do que em geral imaginamos.

Mas será que, em uma sociedade em rede, tudo não deveria ser assim mesmo?

Com essa pergunta entramos no núcleo da presente reflexão. O que segue aqui é uma opinião pessoal. Ninguém precisa concordar com ela para participar da CIRS ou se conectar à Escola-de-Redes.

Organizações hierárquicas, quando promovem encontros, têm sempre um objetivo institucional estabelecido pelos seus chefes, ou, pelo menos, traçado com a sua concordância. Tal objetivo passa, não raro, pela promoção desses chefes e pela satisfação de seus interesses. Às vezes os interesses são claramente econômicos, mas em boa parte dos casos são de outra natureza. Visam aumentar a influência política ou a fama dos chamados (e quase sempre auto-intitulados) "líderes".

Então a organização piramidal trabalha para o cume. Ela trabalha para o centro, para o chefe, para o líder. E as pessoas que trabalham em geral não aparecem, pois seu papel precípuo é o de fazer o chefe aparecer. Aí o chefe fica contente e mantém tais pessoas na sua função (empregadas ou contratadas). Se o chefe ficar muito contente com o resultado, pode até retribuir com uma promoção do "colaborador" que lhe fez tão bem as vontades.

Ocorre que quando um conjunto de pessoas aplicam seus talentos para promover uma atividade, todas devem aparecer. Prá quê? Ora, para poder ser reconhecidas, para poder compartilhar, aumentar e desenvolver esses talentos. Essa é uma característica central daquele tipo de inteligência tipicamente humana de que falava Humberto Maturana: uma inteligência que cresce e se realiza com a troca, com o jogo ganha-ganha, com a colaboração. Uma inteligência colaborativa.

Se as pessoas abrem mão de fazer isso em prol da promoção de outras pessoas que estão acima delas na estrutura hierárquica, elas estão renunciando, em alguma medida, a exercer suas qualidades propriamente humanas. O diabo é que os funcionários burocráticos e outros empregados ou prestadores de serviços em organizações hierárquicas já introjetaram tão fundo as idéias que sustentam tais práticas, que o hábito não de servir mas de ser serviçal se instalou no andar de baixo da sua consciência e emerge como uma pulsão. Freqüentemente eles se escondem para promover seus superiores, tendo medo, inclusive, de proferir uma opinião própria em uma reunião, escrever um artigo em um blog, dar um entrevista ou gravar um vídeo para um meio de comunicação. Mas essas pessoas até se orgulham de habitar a penunbra e se vestir de cinza, adotando a servidão voluntária e, com isso, violando sua própria humanidade ou, no mínimo, deixando de explorá-la e desenvolvê-la como poderiam.

Alguns fazem isso conscientemente, em troca do emprego ou da contratação. Argumentam que se não obedecerem e fizerem a vontade dos chefes, perderão a remuneração sem a qual não terão como viver. Mas dá no mesmo. Se, para sobreviver, uma pessoa precisa castrar suas potencialidades, então tal sobrevivência não poderá ser digna. Um trabalho que deixe de promover o desenvolvimento humano de quem trabalha não pode ser digno.

Os chefes, por sua vez - como aquele senhor de escravo escravo do escravo a que se referia Hegel, com outros termos - também estão aprisionados neste círculo desumanizante. Estão intoxicados pelas ideologias do comando-e-controle e do liderancismo, segundo as quais se não for assim as coisas não funcionam. De que alguém tem sempre que liderar - quer dizer, deixando a frescura de lado e traduzindo em bom português: mandar nos outros - para que uma ação possa ser realizada a contento. Por isso não se adaptam à cultura e à prática de rede, onde não é possível mandar alguém fazer alguma coisa contra a sua vontade.

É por isso que organizar as coisas em rede distribuída é um desafio tremendo em um mundo ainda infestado, em grande parte, por organizações hierárquicas.

Quando organizações hierárquicas se interessam por redes, quase sempre esse interesse é instrumental. Querem usar as redes para obter alguma coisa que fortaleça os seus objetivos e a manutenção das suas estruturas hierárquicas. Seus chefes - quando mais ilustrados - acham que usando as "tecnologias de rede" vão conseguir aumentar sua influência, seu poder ou, quem sabe, suas vendas (daí todo esse súbito interesse cretino pelo tal "marketing viral", de resto uma vigarice).

As organizações hierárquicas - em termos do ser coletivo que se forma, não, é claro, das pessoas que as integram - não vêem as redes como fim - como uma nova forma de interação propriamente humana ou humanizada pelo social - e sim como meio para alguma coisa não-humana. Sim, organizações hierárquicas de seres humanos geram seres não-humanos. A afirmação é forte, mas não há como dizer de outro modo se quisermos ir ao coração do problema. Entenda-se bem: as pessoas continuarão sendo humanas, mas o ser coletivo que se forma não será, posto que não será 'social' (naquele especialíssimo sentido que Maturana empresta ao termo).

Mas então, o que se propõe?

Cada um que percebe esse problema que proponha o que achar melhor para resolver o problema. Não há uma solução. Quando houver uma solução ela será o resultado de uma confluência de miríades de inputs.

Se não é possível mudar de uma vez a prática das organizações hierárquicas, então deverá haver uma transição. Uma transição da organização hierárquica para a organização em rede.

No caso específico que suscitou a presente reflexão talvez se pudesse propor um caminho mais ou menos assim:

Todos os que promovem um evento e que o "compram" como seu devem poder ser conhecidos e reconhecidos por isso. Para tanto, seus nomes devem ser divulgados com destaque em todo o processo de preparação e realização do evento e não apenas os nomes dos chefes, líderes ou coordenadores. Eles não devem ser tratados como "colaboradores" (a quem se faz um agradecimento formal no encerramento dos encontros) e sim como co-autores (se de fato o forem, quer dizer, se assumirem tal papel).

Temos que fazer o contrário do que diz aquele velho adágio sindical autoritário: "Manda quem banca".

Todos esses, aos quais me referi acima, devem, se quiserem, expressar por quaisquer meios suas opiniões sobre os temas que estarão em discussão no evento e não apenas servir de escada para a divulgação das opiniões de alguns, como as daqueles que pagam seus salários ou suas remunerações. Tais opiniões devem ser veiculadas nos meios de comunicação utilizados para convocar, preparar ou realizar o evento.

Isso já é possível. Sim, já é possível. Adotando orientações como essas não teremos eventos menores ou menos "participativos". Ao contrário, como, espero, veremos com a CIRS.

É claro que um evento determinado a esta altura é apenas gancho ou um motivo para a reflexão. Tudo que acontece - qualquer processo, qualquer estruturação adotada, qualquer dinâmica desencadeada em uma organização - é um evento.


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Post do Prof. Augusto de Franco na Escola de Redes, em 10 de janeiro de 2010.

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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Ato Público em defesa do Código Florestal

ATO PÚBLICO EM DEFESA DO CÓDIGO FLORESTAL

Diversas entidades, instituições, organizações e movimentos sociais que compõem o campo democrático da sociedade brasileira promoverão no próximo dia 29 de janeiro, sexta-feira, às 9h00, na Câmara Municipal de Ribeirão Preto, ATO PÚBLICO EM DEFESA DO CÓDIGO FLORESTAL.

Tal iniciativa tem como objetivo mostrar à população de nossa cidade, de nosso Estado e de nosso país a necessidade da implementação de todas as medidas de preservação e recuperação ambiental previstas hoje no Código Florestal, dentre elas, a averbação e reflorestamento das reservas legais e a recomposição arbórea das áreas de preservação permanente, medidas essas essenciais ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade, ao conforto climático, à prevenção de tragédias ambientais e ao combate à erosão genética.

O evento servirá como contraponto às iniciativas dos setores mais atrasados do ruralismo brasileiro que, capitaneados pela CNA—Confederação Nacional da Agricultura e pelos deputados federais e senadores da chamada “bancada ruralista”, tentam promover mudanças no Código Florestal, que, se aprovadas, tornariam inócuas para o meio ambiente e para a qualidade de vida as medidas nele previstas. Na contramão da História, as propostas dos ruralistas atendem tão somente a interesses corporativos ilegítimos e estão desconectadas da realidade social brasileira e das necessidades ambientais do planeta.

Dada a importância desse evento, estarão presentes representações de entidades internacionais e nacionais do porte do Greenpeace e S.O.S Mata Atlântica (ver lista abaixo).


PRESENÇAS JÁ CONFIRMADAS (por ordem alfabética):

· ADUSP – Associação dos Docentes da Universidade de São Paulo

· Associação Amigos do Memorial da Classe Operária

· Associação Cultural e Ecológica Pau-Brasil

· Associação Cultural Humanística

· CEBES – Centro Brasileiro de Estudos em Saúde

· Centro Acadêmico Rui Barbosa da Escola de Educação Física e Esporte da USP

· Centro de Formação Dom Hélder Câmara

· Ciranda em Defesa da Educação Infantil Pública, Gratuita e de Qualidade

· Círculo de Ação Popular José Rosa Melo – CAP-Quintino

· Coletivo Educador Ipê Roxo

· CONLUTAS

· EIV — Estágio Interdisciplinar de Vivência

· Entidade Ambientalista Ibiré

· EXNEEF — Executiva Nacional de Educação Física

· FEPARDO – Federação das Entidades Ambientalistas da Bacia do Rio Pardo

· FERAESP – Federação dos Empregados Rurais Assalariados do Estado de São Paulo

· GREENPEACE

· Instituto Cultural Lindolpho Silva

· Movimento do Ministério Público Democrático

· MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

· Pastorais Sociais da Arquidiocese de Ribeirão Preto

· PRÁXIS – Instituto de Políticas Públicas

· Seminário Gramsci

· Sindicato dos Servidores Municipais de Ribeirão Preto

· S.O.S. Mata Atlântica


CONTATOS:

· Cláudia Perencin – cláudiaperencin@hotmail.com

· Edna Costaednacosta@gmail.com

· Edna Martinsednas.martins@gmail.com

· Kelli Mafortkmafort@yahoo.com.br

· Manoel Eduardo Tavares Ferreirametferreira@uol.com.br

· Marcelo Pedroso Goulartmarcelogoulart@uol.com.br

· Mauro Freitasfreimauro@yahoo.com.br

· Paulo Piu Merli Franco – pmerlifranco@yahoo.com.br

· Simone Kandrataviciussimonekandra@hotmail.com

Edna Costa. Tecnologia do Blogger.