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Um grande debate no mundo das ciências consiste em permitir que as pesquisas (vozes científicas) consigam ser apropriadas pela sociedade (audiência científica). É preciso repensar no papel do jornalismo, nos limites e potencialidades desta divulgação que não fique meramente na informação, mas que contribua para que o conhecimento não seja um mero parêntesis, e que sobremaneira, traga a aliança entre culturas e ciências.
A alfabetização científica só é possível sob as esteiras de um processo educativo crítico e reflexivo, inclusive indagando se a ciência é masculina, branca, ocidental, rica e excludente. É preciso, sobremaneira, considerar que a etimologia da palavra scientia não se restringe ao campo acadêmico, e que a roda talvez tenha sido a primeira descoberta tecnológica que revolucionou o mundo. Ainda que tenhamos consenso de que ela tenha poder, conforme afirmação de Francis Bacon: “Nam et ipsa scientia potestas est” (conhecimento é poder), há vários sentidos nas ciências – no plural, já que podem ser compreendidas de diferentes maneiras, linguagens e metáforas. De Einstein aos leigos, Manoel de Barros talvez respondesse que “o cu da formiga é mais importante do que usina nuclear” (isto do ponto de vista da formiga).
O ato de divulgar a ciência não se limita simplesmente em informar, em linha reta, de um transmissor ao receptor, como se fosse possível traduzir linguagens científicas em técnicas jornalísticas. Dar audiência às ciências exige talento de criação para além de uma linguagem textual, mas incide em reinvenções educativas intrinsecamente associadas às identidades, expressões artísticas e ambientes circundantes que interferem e, dialeticamente são transformados, por um vasto mundo de signos, mitos, cantos e crenças que perfazem o mundo etnográfico da criação do pensamento.
Destarte, para além das ciências, é preciso construir significados para que a sociedade faça o controle social, de modo a construir um projeto civilizatório de formação cidadã em relação ao mundo, seus fragmentos e suas conexões, numa espiral de possibilidades que considere diálogos de saberes, ao invés da tradicional proposta de ter dois lados: um poderoso que ensina e o outro subalterno que aprende. Há sim, sempre uma dialeticidade entre o EU e o OUTRO, mas sem a relação hierárquica do poder instituído pelas ciências, pois no campo fenomenológico, o diálogo é relativizado e conformado de acordo com o que cada um de nós compreende como MUNDO.
Na tríade fenomenológica, o que merece ser sublinhado não é a mera aquisição de informação, seu acesso ou visão crítica, mas sobremaneira, é compreender de que maneira o mundo científico modifica a cultura humana, e conseguirmos interpretar os seus significados à luz das realidades vivenciadas por povos singulares. Posto neste nível, é necessário reconhecer previamente o quão desafiante será aliar um campo replicável da verdade universal das ciências modernas, ao outro campo radicalmente oposto: o de valorizar seu papel em culturas diferentes, que jamais podem ser comparáveis ou assumir paradigmas, pois não há modelos que podem ser simplesmente transpostos de uma realidade à outra quando falamos em exercer nossa cidadania para cumprir o papel de inclusão social.
Para a audiência científica, o caminho tomado é sempre provisório, mas é preciso ter o direito de sacudir as mesmices, até desmoronando os sentidos e instigar a liberdade da arte, sejam pelas fantasias mitológicas, sejam pelas regras mais racionais. É preciso transbordar nos imaginários, sabendo também de esvaziar. Todavia, a essência da subversão metodológica deve ter consistência conceitual e, essencialmente, de se estar preparado para que os sujeitos pesquisadores possam, de repente, tornarem sujeitos pesquisados. Considerar as ciências é também expressar arte, imaginação e poesia. Será possível misturar poesia com ciências? - indagariam mentes cartesianas que dominam o mundo da academia. “Sem dúvida!” – responderia Octavio Paz. Ciências e poesias, anelo e sequidão do carinho. Lutam pela vida contra a satisfação mortal, o sorver da flor e o milagre da dádiva, é necessário romper com a dicotomia do espírito e da matéria, permitindo que os sujeitos da Educação Ambiental pensem com os corações, ou seja, permitam unificar a racionalidade na sensação, oferecendo simultaneamente, o estranhamento ao lado do maravilhamento.
Michèle Sato
Professora e pesquisadora da UFMT & UFSCar [www.ufmt.br/gpea], vem trabalhando para que os abismos entre ciências e culturas não sejam dimensões divorciadas, mas conjugadas pela reinvenção artístico-educativa.
INCERTEZAS CIENTÍFICAS
Michèle Sato
No azul dos reflexos e do fogo solar
Um raio ilumina a verdade diurna
Mas no cosmo pulsante da estrela
Outro raio brilha em incerteza noturna
Números, cálculos e laboratórios
Traçam incógnitas, retas e pontos
Mas nem a geometria euclidiana
Dá a resposta à magia apaixonada
Hormônios, neurônios, binômios
De sangue misturado com desejo
Se a certeza racional determina
A angústia enamorada duvida
Na dor de um amor solitário
Que insiste em alívio da alma
Não há ciência no mundo
Que cure um coração moribundo
Vladimir Moldavsky (surrealista russo):
Has realized, but cannot understand
Vladimir Moldavsky (surrealista russo):
number 15
Michèle Sato
Sou licenciada em Biologia, com mestrado em Filosofia, doutorado em Ciências e pós-doutorado em Educação. Daí minha dificuldade em efetuar minha trajetória em apenas um campo do saber, desde que o entrelaçamento oferece um mosaico colorido, com fios cintilantes e franjas que se emaranham em labirintos. Sou facilitadora das redes de Educação Ambiental, com diversas experiências nacionais e internacionais. Academicamente, minha atuação tem sido na filosofia da arte, com ênfase na fenomenologia e sociopoética; e nas horas de delírio, arrisco-me à aventura das poesias e haikai. Sou movida pelo surrealismo, em especial meu preferido René Magritte, mas para além da escola da arte, aceito o surrealismo como um movimento social que orienta minhas escolhas e opções de vida.
[1] www.bibliotecadafloresta.com.br
[2] www.geoglifos.com.br
[3] www.institutochicomendes.blogspot.com.br
[4] www.youtube.com/watch?v=QfJymHU5Nt4&eurl, In: www.altino.blogspot.com/.
[5] BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar. São Paulo: Companhia de bolso, 1989, p. 25.
Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, GPEA
Universidade Federal de Mato Grosso, UFMT
Av. Fernando Corrêa da Costa, sn
Coxipó, Cuiabá, MT, BRASIL
CEP: 78060-900
Tel. 55-65-3615 8443 Fax: 3615 8440
http://www.ufmt.br/gpea/index.htm
Rede Mato-Grossense de Educação Ambiental - REMTEA
http://www.ufmt.br/remtea/index.htm
Associação Internacional de Investigadores em Educação Ambiental - NEREA
http://www.nerea-investiga.org/default.htm
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sábado, 20 de dezembro de 2008
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Edna Costa. Tecnologia do Blogger.
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