sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Ambientalismo, entre crença e ciência

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O que está na berlinda é a possibilidade de a espécie humana evitar que o processo de sua própria extinção seja acelerado.

José Eli da Veiga é professor titular do Departamento de Economia da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade), onde coordena o Núcleo de Socioeconomia Ambiental. É autor de "A Emergência Socioambiental" (Senac, 2007). Artigo publicado na "Folha de SP":

"Salvar o planeta" é uma expressão tão falsa quanto presunçosa. Pois nada que a espécie humana possa fazer afetará o planeta na escala geológica de tempo, de milhões de anos.

Diferentemente do que pretende esse slogan, não é a Terra que está sendo posta em perigo por drásticos impactos ambientais contemporâneos, como aquecimento global, erosão da biodiversidade ou escassez e degradação dos recursos hídricos.

O que está na berlinda é a possibilidade de a espécie humana evitar que o processo de sua própria extinção seja acelerado pela depleção de boa parte dos ecossistemas que constituem a biosfera. Essa fina e delicada camada que envolve o planeta.

Na mesma toada, também é falso e presunçoso o discurso que apresenta a conservação da natureza como forma de "superar as ameaças à vida no nosso planeta". A continuidade da maior parte das formas de vida -das bactérias às baratas, passando pelas amebas- nem de longe está ameaçada pela capacidade destruidora adquirida pela espécie humana.

O que deve ser motivo de séria preocupação é que tal capacidade exacerba a falha metabólica entre sociedades humanas e natureza. Que permaneceu incipiente sob o domínio do fogo, mas que se aprofunda exponencialmente desde que a máquina a vapor gerou dependência de fontes fósseis de energia.

A artificialização, que tanto fez progredir a humanidade, ameaça seus próprios alicerces vitais, como um parasita que põe em risco a sobrevivência de seu hospedeiro. Mas tais alicerces não são mais que a epiderme do planeta.

Afastadas essas duas arrogantes ilusões de suposto poder discricionário sobre o destino da Terra, também ficará patente a inconseqüência de evocar "desafios da sustentabilidade" sem dizer sustentabilidade de quê.

Afinal, foi na relação com o processo de desenvolvimento humano que o qualificativo "sustentável" ganhou recentemente tanta força simbólica, gerando um novo valor, talvez já mais importante e popular que seu antecessor imediato, a justiça social.

Mesmo que banalizações inerentes à moda tenham agregado à noção de sustentabilidade outras mil e uma utilidades, sua emergência foi determinada por dúvidas sobre as possibilidades futuras da expansão das liberdades humanas que está no âmago da idéia de desenvolvimento.

Quem mesmo assim preferir continuar repetindo bordões sobre salvação do planeta, ameaças à vida e sustentabilidade genérica pode se valer, claro, da ardilosa acusação de que as restrições acima são por demais antropocêntricas. Todavia, tais jargões carregam justamente a forma mais perversa do antropocentrismo: a que supõe a espécie humana tão sábia e poderosa que é capaz até de obter sua própria perpetuação.

Por contraste, enfrentar com rigor científico a discussão sobre a sustentabilidade do desenvolvimento é ter a humildade de assumir o caráter passageiro da existência humana. Não vem apenas da moderna síntese darwiniana da evolução a certeza da impossibilidade de que qualquer espécie possa se eternizar, como propagam de forma subliminar mesmo discursos ambientalistas que não se pretendem religiosos.

Decorre igualmente dessa pouco ensinada parte da física que é a termodinâmica. Particularmente, de sua segunda lei, também evolucionária, sobre a inexorabilidade da entropia. Uma lei tão irredutível quanto a da gravidade. O processo econômico em que se baseia o progresso humano é mera transformação de recursos naturais valiosos (baixa entropia) em resíduos (alta entropia).

A segunda lei diz que a qualidade da energia em sistema isolado tende a se degradar, tornando-se indisponível para a realização de trabalho. A energia que não pode mais ser usada para realizar trabalho é entropia gerada pelo sistema. Em conseqüência, parte dos resíduos não pode ser reaproveitada por nenhum processo produtivo de tão dissipada que se torna.

Aliás, não fosse essa segunda lei, a mesma energia poderia ser usada indefinidamente, viabilizando a reciclagem integral. Não haveria escassez.

Em suma, o foco do debate sobre o desenvolvimento sustentável está na esperança de que a humanidade deixe de abreviar o prazo de sua inevitável extinção se conservar a biocapacidade dos ecossistemas de que depende.
(Folha de SP, 6/1)

Fonte: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=53501

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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Absolument

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É gratificante receber a lembrança de pessoas especiais como Michèle Sato em datas até certo ponto comuns, como os aniversários.

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querida amiga
é seu dia! PARABÉNS Edna do sim, que nos embalos de Rita Lee trouxe seu encantamento e amizade!

Meu presentinho segue abaixo!
Saudades e fraternuras
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Em 1898, nascia o melhor surrealista de todos os tempos, obviamente isso no meu olhar bem particular... Faleceu em 1967, mas se ainda estivesse vivo, no dia 21nov celebraríamos seus 110 anos.

Ao gênio RENÉ MAGRITTE, que me move em pensamento, admiração e existência surrealista, o meu tributo, carinho e admiração.

TOTALLY MAGRITTE!
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..*.;
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terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Albert Camus

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Apaixonei-me louca e perdidamente por uma mulher...
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Uma manhã inteira!
-- Albert Camus –


Camus é um fenomenólogo que desafiava o tempo cronológico, na sua busca existencial, entre o estrangeirismo e as identidades de si mesmo.

quiçá você tenha muitas paixões, por várias manhãs inteiras!
beijoca!
mimi
*.;*.
..*.


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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Consumo, logo existo

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Ao visitar em agosto a admirável obra social de Carlinhos Brown, no Candeal, em Salvador, ouvi-o contar que na infância, vivida ali na pobreza, ele não conheceu a fome. Havia sempre um pouco de farinha, feijão, frutas e hortaliças. "Quem trouxe a fome foi a geladeira", disse. O eletrodoméstico impôs à família a necessidade do supérfluo: refrigerantes, sorvetes etc. A economia de mercado, centrada no lucro e não nos direitos da população, nos submete ao consumo de símbolos. O valor simbólico da mercadoria figura acima de sua utilidade. Assim, a fome a que se refere Carlinhos Brown é inelutavelmente insaciável.

É próprio do humano - e nisso também nos diferenciamos dos animais - manipular o alimento que ingere. A refeição exige preparo, criatividade, e a cozinha é laboratório culinário, como a mesa é missa, no sentido litúrgico. A ingestão de alimentos por um gato ou cachorro é um atavismo desprovido de arte. Entre humanos, comer exige um mínimo de cerimônia: sentar à mesa coberta pela toalha, usar talheres, apresentar os pratos com esmero e, sobretudo, desfrutar da companhia de outros comensais. Trata-se de um ritual que possui rubricas indeléveis. Parece-me desumano comer de pé ou sozinho, retirando o alimento diretamente da panela. Marx já havia se dado conta do peso da geladeira. Nos "Manuscritos econômicos e filosóficos" (1844), ele constata que "o valor que cada um possui aos olhos do outro é o valor de seus respectivos bens".

Portanto, em si o homem não tem valor para nós." O capitalismo de tal modo desumaniza que já não somos apenas consumidores, somos também consumidos. As mercadorias que me revestem e os bens simbólicos que me cercam é que determinam meu valor social. Desprovido ou despojado deles, perco o valor, condenado ao mundo ignaro da pobreza e à cultura da exclusão.

Para o povo maori da Nova Zelândia cada coisa, e não apenas as pessoas, tem alma. Em comunidades tradicionais de África também se encontra essa interação matéria-espírito. Ora, se dizem a nós que um aborígine cultua uma árvore ou pedra, um totem ou ave, com certeza faremos um olhar de desdém. Mas quantos de nós não cultuam o próprio carro, um determinado vinho guardado na adega, uma jóia?

Assim como um objeto se associa a seu dono nas comunidades tribais, na sociedade de consumo o mesmo ocorre sob a sofisticada égide da grife. Não se compra um vestido, compra-se um Gaultier; não se adquire um carro, e sim uma Ferrari; não se bebe um vinho, mas um Château Margaux. A roupa pode ser a mais horrorosa possível, porém se traz a assinatura de um famoso estilista a gata borralheira transforma-se em cinderela...

Somos consumidos pelas mercadorias na medida em que essa cultura neoliberal nos faz acreditar que delas emana uma energia que nos cobre como uma bendita unção, a de que pertencemos ao mundo dos eleitos, dos ricos, do poder. Pois a avassaladora indústria do consumismo imprime aos objetos uma aura, um espírito, que nos transfigura quando neles tocamos. E se somos privados desse privilégio, o sentimento de exclusão causa frustração, depressão, infelicidade.

Não importa que a pessoa seja imbecil. Revestida de objetos cobiçados, é alçada ao altar dos incensados pela inveja alheia. Ela se torna também objeto, confundida com seus apetrechos e tudo mais que carrega nela mas não é ela: bens, cifrões, cargos etc.

Comércio deriva de "com mercê", com troca. Hoje as relações de consumo são desprovidas de troca, impessoais, não mais mediatizadas pelas pessoas. Outrora, a quitanda, o boteco, a mercearia, criavam vínculos entre o vendedor e o comprador, e também constituíam o espaço das relações de vizinhança, como ainda ocorre na feira.

Agora o supermercado suprime a presença humana. Lá está a gôndola abarrotada de produtos sedutoramente embalados. Ali, a frustração da falta de convívio é compensada pelo consumo supérfluo. "Nada poderia ser maior que a sedução" - diz Jean Baudrillard - "nem mesmo a ordem que a destrói." E a sedução ganha seu supremo canal na compra pela internet. Sem sair da cadeira o consumidor faz chegar à sua casa todos os produtos que deseja.

Vou com freqüência a livrarias de shoppings. Ao passar diante das lojas e contemplar os veneráveis objetos de consumo, vendedores se acercam indagando se necessito algo. "Não, obrigado. Estou apenas fazendo um passeio socrático", respondo. Olham-me intrigados. Então explico: Sócrates era um filósofo grego que viveu séculos antes de Cristo. Também gostava de passear pelas ruas comerciais de Atenas. E, assediado por vendedores como vocês, respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz".

Frei Betto - frei dominicano e escritor.

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sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A coisa mais linda que existe

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Coisa mais linda neste mundo
É sair por um segundo
E te encontrar por aí
E ficar sem compromisso
Pra fazer festa ou comício
Com você perto de mim.


(Torquato Neto)


Quando resolvi postar este poema, quis enfeitá-lo com uma figura que estivesse à altura. Depois de muito procurar, nada encontrar e quase desistir, lembrei do Vlad Gerasimov (http://www.vladstudio.com).

A figura chama-se HARMONIA.

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terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Quibe de berinjela

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2 xícaras (chá) de trigo para quibe
4 xícaras (chá) de água morna
2 berinjelas grandes picadas
1 cebola grande picada (ou 1/2 pimentão vermelho + 1/2 maço de salsinha)
3 colheres (sopa) de hortelã fresca picada
2 cenouras raladas em ralo grosso
2 colheres (chá) de sal
1 colher (sopa) de margarina ou azeite extra-virgem
6 colheres (sopa) de maisena

Hidrate o trigo de quibe por 15 minutos e escorra bem apertando. Coloque a berinjela em recipiente plástico ou num saquinho plástico com pouca água e leve ao micro-ondas até ficar bem macia. Bater no liquidificador a berinjela e a cebola. Passe para uma tigela e acrescente o trigo, a hortelã, a cenoura, sal, margarina e a maisena.

Coloque numa assadeira untada com margarina apertando bem e leve assar até dourar levemente. Corte em quadrados e sirva.

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domingo, 4 de janeiro de 2009

Os Quintais

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Quintais
Há tanta beleza, esconderijos
e mistérios nos quintais...
Nas fachadas não.

Os quintais
Contam segredos e o jeito de ser do dono
Que arquitecto nenhum põe no papel..
As fachadas não.

Os quintais
têm personalidade de filho do avô, do neto...
eles têm alma... poesia...
As fachadas não.

Nos quintais muitas vezes há o ganha pão,
Numa horta, galinheiro, varais,
Oficina e porão...
Nas fachadas não.

Os quintais não têm pretensões,
não são esnobes,
não se pintam...
Eles têm aconchego, calor, conteúdo.
As fachadas não.

Nos quintais
há mais suspense...
O proibido dá sensação...
Mora o cachorro, o rato,
o coelho, a cobra, o pato
e há o pulo do gato... ladrão!
Nas fachadas não.

Os quintais
inspiram antigos bate-papos,
assuntos sérios, cochichos e opiniões.
As fachadas não.

Os quintais
se estreitam se unem entre si,
aparam quinas e arestas
como se dessem as mãos.
As fachadas não.

Os quintais dão sombra e água fresca,
dão abacate, paz, laranja, mamão,
dão ainda tranqüilidade...
alface, chuchu e limão...
As fachadas não.

Os quintais
são descobertos desnudos...
São terra, adubo, luar e chão.
Recebem chuvas sementes e orvalhos...
As fachadas não.

Os quintais
têm tesouros guardados,
têm balanços e brinquedos bem brincados!
Neles, o verde, de improviso,
cresce solto... livre... desalinhado...
As fachadas não.

Os quintais
são verdadeiros, disformes, tortos...
Têm entulhos... bagulhos...
lixos... pardais...
As fachadas não.

Os quintais
não se aprontam para visitas
nem se mostram curiosos.
Dão festas só para os amigos...
As fachadas não.

Os quintais
têm fogão de lenha, com chaminé.
Teia de aranha, carvão...
têm samambaias e avencas espontâneas...
As fachadas não.

Os quintais
não se reformam...
são relíquias intocáveis
onde um degrau, um banco,
uma escada de pedra
alguém que não mais existe, fez.
As fachadas não.

Os quintais
mais que do patrão,
eles são dos empregados...
Há serestas, seresteiros,
redes franjadas, violão...
As fachadas não.

Nos quintais
as fantasias nossas de cada dia
e a nossa infância é resguardada...
As lembranças brincam a ciranda do tempo
e morrem de medo de assombração...
Nas fachadas não.

Quintais
o que mais gosto neles
é que, por mais que se pareçam,
não existem dois iguais.
As fachadas... não!

(Guiomar Paiva)

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