sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Despretensiosamente

Pessoas me perguntam e solicitam dicas de como preparar oficinas sobre educação ambiental e meio ambiente. Depois de alguns anos trabalhando em situações, contextos e públicos diferenciados, resolvi preparar uma pequena explanação a respeito. Como tudo na vida, este pequeno roteiro estará sempre se modificando, se atualizando e evoluindo.

Um dos princípios do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global diz que somos todos educandos e aprendizes. À vista disso, numa oficina o facilitador necessita de embasamento teórico sobre os temas que serão abordados, incluindo não só questões de meio ambiente, mas a educação ambiental em si. Também é fundamental estabelecer contato com a realidade do grupo, sua cultura, história, crenças, enfim, o contexto no qual a oficina será aplicada e que deverá ser respeitado em todos os momentos. Dependendo do grupo e tempo disponível, é interessante criar grupos de estudo para leituras como o Tratado, Carta da Terra, Viveiros Educadores ou artigos de educação ambiental que contribuam para a formação de educadores e educandos.

A faixa etária e escolaridade definirão a metodologia, levando-se em conta a carga horária, local, infra-estrutura, número de educandos e os objetivos da oficina. Ao contrário do ensino formal, onde os docentes não possuem autonomia para criar os conteúdos, as oficinas de educação ambiental nunca serão uma igual à outra. Essa dinâmica permite que sejam ajustadas de acordo com o grupo facilitando a interação com os educandos.

Não haverá, portanto, livro ou cartilha que traga todas as atividades de forma plena, é necessário pesquisar em várias publicações, compilar o que for de interesse e adaptá-la ao grupo. Pode-se dizer que esse é o segundo grande passo na preparação de uma oficina. O seguinte é o encontro com o grupo, menos formal e mais caloroso possível e, neste caso, o facilitador deverá ter em mãos alguma atividade de apresentação para que o grupo possa conhecê-lo e se reconhecer fazendo parte dele.

As atividades seguintes, sejam teóricas, jogos cooperativos, teatro, música, artes plásticas, etc., seguirão conforme planejado, porém desde que o andamento e receptividade do grupo sejam positivas, caso contrário, serão modificadas ou até mesmo eliminadas. O facilitador deverá estar sensível aos sinais do grupo estando sempre aberto a sugestões e críticas.

Com o preparo e organização da oficina, naturalmente o facilitador desenvolve expectativas quanto aos resultados esperados. É preciso certo cuidado e atenção para que a ansiedade não contamine o grupo, o que pode gerar frustrações em ambos os lados.

Os resultados da oficina decorrerão de tudo que acontecer durante o andamento e também da interação entre o facilitador e o grupo e entre o grupo em si. Neste caso e dependendo do tempo disponível, haverá oportunidade de trabalhar estas questões.

Em virtude da educação ser um processo lento que deixa raízes, o fator tempo é o grande aliado das oficinas de educação ambiental. Quanto mais horas tiver, maiores serão as condições de discussão e diálogo dos diversos temas e questões, que culminarão com melhores resultados.

Finalizando, seguem abaixo algumas sugestões de leitura e publicações disponíveis em pdf.

- À Sombra das Árvores – Transdisciplinaridade e Educação Ambiental em Atividades Extraclasse – Rita Mendonça & Zysman Neiman - em especial o capítulo: Roteiro para elaboração dos estudos do meio.

- A Escola Sustentável – Lúcia Legan – atividades para crianças em idade de alfabetização.

- Vivências Integradas com o Meio Ambiente – Marcelo de Queiroz Telles – várias atividades para diversas faixas etárias que abordam meio ambiente, fauna, flora, integração entre os participantes, etc., principalmente em ambientes externos.

- Educação Ambiental: princípios e práticas – Genebaldo Freire Dias – considerado como a base do educador ambiental, possui o histórico da EA desde que o mundo é mundo. Resenha no site do autor.

- Educando para a Conservação da Natureza - Maria Cornélia Mergulhão – mostra como trabalhar em ambientes e grupos diferentes.

- Da Pá Virada: Revirando o Tema Lixo – Daniela Sudan e outros – de acesso não muito fácil por ser publicação do Programa USP Recicla, disponível nas cidades onde há campus USP. Com o conteúdo focando o tema lixo, possui inúmeras atividades que podem ser adaptadas a outros temas, organizadas e separadas em sequência. Vale a pena procurar.

- Trilha Radical VerdeInstituto 5 Elementos – guia de atividades de educação ambiental em parques urbanos.

- Orientação para Educação Ambiental nas Bacias Hidrográficas do Estado de São Paulo – Origem e Caminhos da REPEA – publicação da REPEA, Rede Paulista de Educação Ambiental, disponível em bibliotecas e para venda através do Instituto 5 Elementos.

- Caderno de Jogos Cooperativos - Juliana Assef Pierotti – introdução aos jogos cooperativos, contendo várias sugestões que podem ser adaptadas a qualquer tema. Disponível em pdf.

- Livro das Águas – Cadernos de Educação Ambiental Água para a Vida, Água para Todos – publicação do WWF Brasil dentro do programa de mesmo nome. Disponível na versão on line ou em formato de impressão.

- Manual de Educação para o Consumo Sustentável – IDEC/MMA – foca vários temas do ponto de vista do consumo. Resenha e conteúdo em capítulos no site do IDEC.

- Viveiros Educadores – Plantando a Vida, Identidades da Educação Ambiental Brasileira e Programa Nacional de Educação Ambiental – ProNEA – publicações do MMA (Ministério do Meio Ambiente) que abordam várias faces da educação ambiental e temas para estudo.

- REVBEA – Revista Brasileira de Educação Ambiental – organizada pela REBEA (Rede Brasileira de Educação Ambiental), está no número 3. Publicação não-acadêmica que visa disponibilizar conteúdo teórico aos educadores ambientais.

- GPEA-UFMT – Grupo Pesquisador em Educação Ambiental vinculado à UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) e coordenado pela Profª Michèle Sato. Sítio que contém extenso material para estudo, como textos, artigos, apresentações em powerpoint, teses, publicações, revistas, livros, etc.

- Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global – documento que surgiu na Eco 92 num evento paralelo formado por instituições de diversos países. Seus 16 princípios encantam as práticas ambientais e encontra-se em constante construção. O Tratado é encontrado em várias publicações e sites e também num blog.

- A Carta da Terra – segundo o site oficial, é uma declaração de princípios éticos fundamentais para a construção, no século 21, de uma sociedade global justa, sustentável e pacífica.

- PNEA – Política Nacional de Educação Ambiental – Lei nº 9795, de 27 de abril de 1999.

Esta é uma pequena amostra de publicações e leituras para enriquecer os conhecimentos e aprimorar as oficinas. É possível ainda navegar pelos sites citados conhecendo outros conteúdos e ser levado para outros ainda através dos links.

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Edna Costa. Tecnologia do Blogger.