Por Marina Mezzacappa
*01/02/2008*
O frevo é resultado da mistura e evolução da polca, do dobrado, da marcha e do maxixe. Surgiu da aceleração da cadência destes ritmos nos fins do século XIX, quando eram tocados por bandas civis e militares em eventos e festividades. "Frevendo no Recife" é o título da pesquisa de Leonardo Vilaça Saldanha, apresentada como tese de doutorado no último dia 28 no Instituto de Artes da Unicamp.
Reconhecidamente um ritmo de rua, o frevo firmou-se através da reprodução de suas músicas pelo rádio. "O frevo surge entre o final do século XIX e princípio do XX, mas só se consolida na década de 1930, na chamada Era do Rádio", explica Saldanha. De acordo com o pesquisador, o rádio teve papel fundamental nessa consolidação, pois foi através dele que pôde ser amplamente divulgado em Pernambuco e difundido pelo país. "O frevo é uma música urbana. Com o rádio, ele sai de uma situação mais artesanal, do carnaval de rua, e passa a ser um produto vendável", completa Claudiney Rodrigues Carrasco do Instituto de Artes da Unicamp e orientador da pesquisa de Saldanha.
Para Carrasco, o advento do rádio revoluciona a divulgação no meio musical, até então feita através do teatro popular, das revistas de variedades e das casas de partitura, transformando a música em um produto industrial de entretenimento e consumo. "Afinal foram a indústria fonográfica e o rádio que criaram esse conceito que temos hoje de música popular", diz.
Carrasco acredita que a maior virtude da pesquisa de Saldanha foi realizar uma análise melódica, rítmica, harmônica e instrumental do frevo. "O estudo - explica - traz um mapeamento detalhado dos subgêneros do frevo, com as características de cada um". Saldanha acrescenta que por exigências mercadológicas da época (década de 1930), o frevo e outros gêneros musicais
populares adquiriram subdivisões de gênero que facilitavam uma melhor identificação junto à mídia.
O termo frevo vem do verbo ferver, sendo uma corruptela do mesmo, e remete a efervescência dos bailes populares. Os três gêneros do frevo são o frevo-de-rua, derivado da polca-marcha e do dobrado, unicamente instrumental; o frevo-canção, originário da ária, com introdução orquestral
e seguida de uma canção; e o frevo-de-bloco, derivado dos ranchos de reis e do pastoril, executado por uma orquestra de "pau e cordas" e cantado. Esses gêneros, por sua vez, desdobram-se em outros subgêneros, dando origem a uma grande variedade de frevos.
Evolução
O rádio que começou mais elitista passou a dar mais espaço para a cultura popular a partir do final da década de 1920, tornando-se economicamente rentável e o principal meio de comunicação de massa. É quando, em Pernambuco, começa a divulgar o frevo. Segundo Saldanha, que não tira da indústria fonográfica parte dos méritos pela consolidação e divulgação do ritmo, a Rádio Clube de Pernambuco foi a principal divulgadora do frevo em seu momento áureo. "Foi fundamental o papel desempenhado por essa rádio e pelo maestro Nelson Ferreira, seu diretor artístico e um dos grandes compositores do frevo". Ferreira foi o responsável pela inclusão das revistas carnavalescas na programação da emissora, tendo lançado músicas,
intérpretes e compositores. Além dele, Saldanha destaca também Capiba como um dos principais compositores, propagandistas e divulgadores do frevo.
O espaço regular na programação radiofônica conquistado pelo ritmo incentivou a composição e gravação de músicas escritas para o carnaval. Muito dinâmico, o ritmo continuou se modificando desde então e ainda hoje tem novidades. "O frevo é um gênero vivo e em constante transformação", finaliza Saldanha.
Patrimônio imaterial na Sapucaí
Em Pernambuco, o ano de 2007 foi marcado pelas comemorações do centenário do frevo. Apesar de o surgimento do ritmo ter sido um processo longo e espontâneo, convencionou-se a data de seu nascimento no dia nove de fevereiro de 1907, quando o termo foi empregado pela primeira vez na mídia impressa, no Jornal Pequeno do Recife.
Como parte das comemorações, o frevo foi declarado no ano passado patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A nomeação trouxe mais facilidade para as agremiações de frevo apresentarem projetos ao Ministério da Cultura e à iniciativa privada.
Este ano, o ritmo pernambucano será tema da quinta escola a desfilar no domingo, dia 3, na Marquês de Sapucaí. A Escola de Samba Mangueira homenageia o centenário do frevo com o enredo "100 anos do frevo, é de perder o sapato. Recife mandou me chamar...". Max Lopes, carnavalesco da escola e autor do enredo, explica sua escolha: "O frevo é um tema genuinamente brasileiro, tradicional, alegre, solto, irreverente e altamente carnavalizado". Lopes ainda argumenta que esse desfile vai provar que é possível unir vários aspectos da cultura brasileira, como o frevo e o samba. O desfile da Mangueira conta com o co-patrocínio da prefeitura do Recife e fecha simbolicamente as comemorações do centenário.
Ciência X carnaval
Carnaval, frevo e ciência têm algo em comum? Pelo menos para o bloco "Com Ciência na Cabeça e Frevo no Pé", sim. Desde 2005, o bloco desfila pelas ruas do Recife Antigo e pelas ladeiras de Olinda durante os festejos carnavalescos divulgando a ciência e seus principais ícones. Já foram
homenageados Albert Einstein, Santos Dumont e o físico pernambucano José Leite Lopes. Neste ano, Charles Darwin, autor da Teoria da Evolução, se une à trupe de bonecos gigantes, manifestação tradicional do carnaval pernambucano.
Iniciativa conjunta do Espaço Ciência, das prefeituras de Olinda e de Recife, da Coordenadoria de Ensino de Ciências do Nordeste (Cecine) da Universidade Federal de Pernambuco e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC - PE), o bloco sai pela primeira vez este ano na quarta-feira, dia 30, às 20h, de frente da Torre Malakoff.
Fonte: http://www.comciencia.br/comciencia/?section=3¬icia=392
Figura: Heitor dos Prazeres, Frevo, óleo sobre tela, sem data. Acervo do MARGS.
*01/02/2008*
O frevo é resultado da mistura e evolução da polca, do dobrado, da marcha e do maxixe. Surgiu da aceleração da cadência destes ritmos nos fins do século XIX, quando eram tocados por bandas civis e militares em eventos e festividades. "Frevendo no Recife" é o título da pesquisa de Leonardo Vilaça Saldanha, apresentada como tese de doutorado no último dia 28 no Instituto de Artes da Unicamp.
Reconhecidamente um ritmo de rua, o frevo firmou-se através da reprodução de suas músicas pelo rádio. "O frevo surge entre o final do século XIX e princípio do XX, mas só se consolida na década de 1930, na chamada Era do Rádio", explica Saldanha. De acordo com o pesquisador, o rádio teve papel fundamental nessa consolidação, pois foi através dele que pôde ser amplamente divulgado em Pernambuco e difundido pelo país. "O frevo é uma música urbana. Com o rádio, ele sai de uma situação mais artesanal, do carnaval de rua, e passa a ser um produto vendável", completa Claudiney Rodrigues Carrasco do Instituto de Artes da Unicamp e orientador da pesquisa de Saldanha.
Para Carrasco, o advento do rádio revoluciona a divulgação no meio musical, até então feita através do teatro popular, das revistas de variedades e das casas de partitura, transformando a música em um produto industrial de entretenimento e consumo. "Afinal foram a indústria fonográfica e o rádio que criaram esse conceito que temos hoje de música popular", diz.
Carrasco acredita que a maior virtude da pesquisa de Saldanha foi realizar uma análise melódica, rítmica, harmônica e instrumental do frevo. "O estudo - explica - traz um mapeamento detalhado dos subgêneros do frevo, com as características de cada um". Saldanha acrescenta que por exigências mercadológicas da época (década de 1930), o frevo e outros gêneros musicais
populares adquiriram subdivisões de gênero que facilitavam uma melhor identificação junto à mídia.
O termo frevo vem do verbo ferver, sendo uma corruptela do mesmo, e remete a efervescência dos bailes populares. Os três gêneros do frevo são o frevo-de-rua, derivado da polca-marcha e do dobrado, unicamente instrumental; o frevo-canção, originário da ária, com introdução orquestral
e seguida de uma canção; e o frevo-de-bloco, derivado dos ranchos de reis e do pastoril, executado por uma orquestra de "pau e cordas" e cantado. Esses gêneros, por sua vez, desdobram-se em outros subgêneros, dando origem a uma grande variedade de frevos.
Evolução
O rádio que começou mais elitista passou a dar mais espaço para a cultura popular a partir do final da década de 1920, tornando-se economicamente rentável e o principal meio de comunicação de massa. É quando, em Pernambuco, começa a divulgar o frevo. Segundo Saldanha, que não tira da indústria fonográfica parte dos méritos pela consolidação e divulgação do ritmo, a Rádio Clube de Pernambuco foi a principal divulgadora do frevo em seu momento áureo. "Foi fundamental o papel desempenhado por essa rádio e pelo maestro Nelson Ferreira, seu diretor artístico e um dos grandes compositores do frevo". Ferreira foi o responsável pela inclusão das revistas carnavalescas na programação da emissora, tendo lançado músicas,
intérpretes e compositores. Além dele, Saldanha destaca também Capiba como um dos principais compositores, propagandistas e divulgadores do frevo.
O espaço regular na programação radiofônica conquistado pelo ritmo incentivou a composição e gravação de músicas escritas para o carnaval. Muito dinâmico, o ritmo continuou se modificando desde então e ainda hoje tem novidades. "O frevo é um gênero vivo e em constante transformação", finaliza Saldanha.
Patrimônio imaterial na Sapucaí
Em Pernambuco, o ano de 2007 foi marcado pelas comemorações do centenário do frevo. Apesar de o surgimento do ritmo ter sido um processo longo e espontâneo, convencionou-se a data de seu nascimento no dia nove de fevereiro de 1907, quando o termo foi empregado pela primeira vez na mídia impressa, no Jornal Pequeno do Recife.
Como parte das comemorações, o frevo foi declarado no ano passado patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A nomeação trouxe mais facilidade para as agremiações de frevo apresentarem projetos ao Ministério da Cultura e à iniciativa privada.
Este ano, o ritmo pernambucano será tema da quinta escola a desfilar no domingo, dia 3, na Marquês de Sapucaí. A Escola de Samba Mangueira homenageia o centenário do frevo com o enredo "100 anos do frevo, é de perder o sapato. Recife mandou me chamar...". Max Lopes, carnavalesco da escola e autor do enredo, explica sua escolha: "O frevo é um tema genuinamente brasileiro, tradicional, alegre, solto, irreverente e altamente carnavalizado". Lopes ainda argumenta que esse desfile vai provar que é possível unir vários aspectos da cultura brasileira, como o frevo e o samba. O desfile da Mangueira conta com o co-patrocínio da prefeitura do Recife e fecha simbolicamente as comemorações do centenário.
Ciência X carnaval
Carnaval, frevo e ciência têm algo em comum? Pelo menos para o bloco "Com Ciência na Cabeça e Frevo no Pé", sim. Desde 2005, o bloco desfila pelas ruas do Recife Antigo e pelas ladeiras de Olinda durante os festejos carnavalescos divulgando a ciência e seus principais ícones. Já foram
homenageados Albert Einstein, Santos Dumont e o físico pernambucano José Leite Lopes. Neste ano, Charles Darwin, autor da Teoria da Evolução, se une à trupe de bonecos gigantes, manifestação tradicional do carnaval pernambucano.
Iniciativa conjunta do Espaço Ciência, das prefeituras de Olinda e de Recife, da Coordenadoria de Ensino de Ciências do Nordeste (Cecine) da Universidade Federal de Pernambuco e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC - PE), o bloco sai pela primeira vez este ano na quarta-feira, dia 30, às 20h, de frente da Torre Malakoff.
Fonte: http://www.comciencia.br/comciencia/?section=3¬icia=392
Figura: Heitor dos Prazeres, Frevo, óleo sobre tela, sem data. Acervo do MARGS.
1 comentários:
Olá! lembra de mim? quanto tempo que vc não vem pra cá!
li seu comentário no blog da pseudagem do rubis. postei um novo texto la (sou uma "colaboradora" hehe) e tentei explicar o que seria o pseudo!
ah, que blog mais culto! adorei!
beijos!
Nara
Postar um comentário